Renascimento
O mesmo já não acontece quando falamos dos outros corpos designadamente o corpo emocional, mental e espiritual. Os condicionamentos que trazemos e as ideias que criamos sobre a realidade à nossa volta levam-nos a ter experiencias onde deixamos de actuar de acordo com as leis da natureza porque procuramos manter, perpetuar, fixar o que acreditamos que naquele momento é melhor para nós e nos vai trazer mais felicidade. Estamos a contrariar a lei da impermanência e isso leva-nos directamente para o sofrimento. Um dos principais problemas é quando construímos uma realidade que passamos a acreditar porque estamos a ser movidos pelo medo do desconhecido e pela falta de Fé e confiança na forma como somos efectivamente guiados e levados ao colo na nossa vida.
Nessa altura, os obstáculos que são colocados a flutuar no universo passam a ser um entrave à nossa evolução e deixamos de aproveitar a sua energia como um processo evolutivo, de transformação e renascimento permanente. No fim de contas não são obstáculos são ajudas espirituais! No entanto, a maioria de nós não está sintonizado com o convite ao renascimento permanente e o obstáculo passa a ser uma parede onde esbarramos e onde perdemos a nossa energia por limitação e incapacidade de ver para além do obstáculo…
O sofrimento nasce da nossa tentativa de manter algo que por variadíssimas razões já não existe. Não existe porque o agora está sempre em mudança movido por uma força maior que nunca pára (assim como uma nuvem se forma no céu fazendo, num segundo uma forma conhecida, e no momento seguinte se dissolve). Não existe porque esse momento que queremos viver já aconteceu e por isso está no passado ou foi sonhado por nós e por isso não existe. Sofremos porque tentamos encontrar na realidade o conteúdo, a forma e as expectativas que colocamos e ao não encontrar o que procuramos ficamos apegados e presos à nossa imagem interna. Sofremos porque não estamos a viver a proposta que a vida nos oferece e tentamos viver num tempo e espaço que já não existe a não ser dentro de nós. O choque que esse mundo interno tem quando se confronta com o principio da realidade leva à frustração, ao apego, à avidez, à repulsa, à não aceitação, ao ódio e como consequência ao sofrimento.
Falar em renascimento implica naturalmente falar em morte. Porque o renascimento acontece quando nos libertamos e deixamos para trás algo a que estávamos apegados e que não nos deixava viver a vida como ela é.
Quando estamos perante um problema, não existe nenhuma solução para ele porque é justamente na compreensão do problema que reside a sua dissolução. Examinar a questão é um processo que só é possível se nos dispusermos à investigação e para que isso aconteça é necessário sairmos do plano emocional, dos condicionamentos mentais que criamos e nos colocarmos como espectadores do filme que está a acontecer na nossa vida, para que possamos deixar de estar vinculados à mente, ao Ego e ao “drama” e deixarmos que o que se quer mostrar tenha espaço para acontecer. Esse é o verdadeiro renascimento! Desde o início que a chave do renascimento tem sido o desapego, o abandono da pele morta, da vinculação aos nossos pensamentos, da libertação das ideias formadas para que possamos viver a realidade que ela se mostra.
Renascer é sermos verdadeiros connosco próprios e levar o espirito, como uma vela ao centro da nossa escuridão.
Porque na verdade como diz (São Francisco) És aquilo que andas à procura.
Bom Ano Novo! Bem haja e Grata à Vida!
Maria Gorjão Henriques